Foto: Lucas Amorelli
Produtor Valdir Eccel (à dir) começou a colher e está tirando de 70 a 80 sacas por hectare em Silveira Martins
A abertura estadual da colheita da soja está marcada para 6 de abril, e ocorre tradicionalmente em Tupanciretã, município com maior área plantada no Estado: 146 mil hectares. Mas na sexta alguns produtores já estavam com as colheitadeiras a todo vapor na lavoura em diferentes pontos - devido à chuva do final de semana, o trabalho foi interrompido temporariamente. Dos cerca de 900 mil hectares plantados na região, cerca de 6% já foram colhidos, conforme a Emater. Na maior parte da região, a previsão é de boa produtividade.
Existem hoje dois cenários distintos quanto à produção. O primeiro é que nos municípios ao norte, como Júlio de Castilhos, Pinhal Grande, Tupanciretã, Pinhal Grande, Quevedos e outros vizinhos estão mostrando boa produtividade. Não tiveram influência da estiagem, com plantas que se desenvolveram e trazem vagens completas e com grãos de boa qualidade. Por outro lado, a plantação de municípios como São Sepé e Caçapava do Sul já confirmam perdas que podem chegar a 50% por causa da falta de chuvas.
- A variação é muito grande. Municípios da região de Júlio e Tupã podem chegar a um rendimento de até 90 sacos por hectare. Já mais para o sul, como em Cachoeira, essa produtividade cai pela metade, em torno de 45 sacos por hectare plantado. Ainda é muito cedo para estabelecer uma média de produção, já que pouco foi colhido, mas com certeza, será uma safra de muita variação - analisa o engenheiro agrônomo do Emater regional Luiz Antônio Rocha Barcellos.
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Conforme ele, o custo médio da soja fica em torno do valor equivalente a 35 sacos para cada hectare cultivado, ou seja, para ter lucro, o produtor precisa ter rendimento maior do que isso.
RESPIRO NO PREÇO
Nas últimas semanas, o preço da soja teve boa reação. A saca cotada R$ 69,72 na sexta-feira teve valorização de 8,9% se comparada a um mês atrás, quando estava em R$ 63,97. Um dos principais motivos é a quebra da safra na Argentina por causa da seca. A produtividade dos hermanos, estimada em 54 milhões de toneladas em fevereiro, deve cair 13%, para 47 milhões de toneladas.
EM SILVEIRA MARTINS
Silveira Martins já foi conhecida como a "Terra da Batatinha", já que esse foi o carro chefe da agricultura há alguns anos. Só que esse cenário mudou, principalmente porque a batata inglesa é uma cultura que exige muito do trabalho manual e se tornou pouco rentável com a chegada de outros cultivos.
Esses foram alguns dos motivos que levaram o agricultor Valdir Eccel, 56 anos, a apostar no plantio da soja, ainda nos anos 80. Para essa safra, ele, que começou a colher na sexta parte da sua área de 60 hectares, tem uma boa expectativa. A produtividade de suas lavouras deve ficar de 70 a 80 sacas por hectare:
- Foi feito o plantio da chamada soja precoce, semeada logo no início do ciclo de cultivo. É um pouco mais arriscado, mas quebra é quase mínima. Os grãos estão com ótima qualidade. Quase dá para usar para semente.
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Um dos segredos, conforme ele, é uso da área da lavoura apenas para o cultivo da planta, diferentemente de outros produtores intercalam no inverno com pastagem para o gado. Eccel usa uma forragem de cobertura do solo e, antes da safra, faz a dessecagem para o plantio direto:
- Essa palha que fica contribui para os nutrientes do solo, além de reter a umidade por mais tempo. As análises de solo feitas constantemente mostram isso. O solo não fica compactado e diminuem as erosões. Além disso, a gente usa menos adubo.
CAUTELA
Seu Valdir se mostra cauteloso, já que ainda guarda no galpão soja ainda da safra passada na expectativa de uma valorização do grão.
- O segredo da lavoura é não fazer muita dívida. A gente paga as contas e o resto guarda para quando o preço for melhor - diz o produtor, que conta com um ajudante na hora da safra.
Conforme a engenheira agrônoma da Emater de Silveira Martins, Katiule Morais, a média do município todo está se destacando pela boa produtividade. Um dos principais motivos foi justamente o plantio precoce.
- Quando deu a estiagem do começo de março, essa soja precoce já estava em um estágio de enchimento de grãos mais avançado. Diferente daquelas que foram semeadas um pouco mais tarde, que sofreram com falta de água quando mais precisaram e acabaram tendo dificuldades para se desenvolver - explica Katiule.
HORA DE VENDER PRODUÇÃO
Para quem está colhendo a soja, a indicação de quem atua na área de consultoria em agronegócio é de que busque vender o quanto antes. Conforme o especialista em mercado da soja da Corretora Labhoro, de Curitiba (PR), Ginaldo Sousa, os preços tiveram uma grande influência da quebra da safra argentina, devido ao clima. No entanto, conforme o consultor, as previsões de clima para a safra americana são boas, o que indica boa safra e bastante oferta no mercado.
- Os estoques mundiais estão estáveis e o mercado sofre pequenas oscilações, mas que já significativas para casos como o do Rio Grande do Sul. Só que os embarques para os Estados Unidos estão aumentando por parte de outros exportadores, mesmo com a quebra da Argentina. Se não tivesse essa quebra, a oferta mundial seria muito grande e os preços não estariam onde estão hoje - explica Sousa, sobre a motivação da reação dos preços nas últimas semanas.
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Ainda conforme o consultor, a indicação é de que a venda seja feita o quanto antes.
- Saca de soja na casa dos R$ 70, eu recomendo venda. É um bom preço e muito melhor do que isso não vai ficar. Sei que no Rio Grande do Sul o produtor gaúcho costuma segurar um pouco a safra, mas vamos aproveitar para vender, fazer média, fazer preço - recomenda.
No últimos 12 meses, a variação da saca de soja de 60 quilos, conforme valores da Emater Regional, registrou o preço mínimo de R$ 56,58, ainda em abril do ano passado, e o máximo de R$ 69,72, atualmente.